sexta-feira, 28 de março de 2008

Automação ou alienação?

Estes dias estive pensando: uma empresa que desenvolve um sistema (como a empresa em que trabalho, a Softland) recebe uma série de pedidos de melhorias de funcionalidades e facilidades, para permitir um trabalho mais ágil.

Mas será que o que estamos fazendo é mesmo deixar o trabalho mais ágil ou estamos simplesmente alienando o trabalho do usuário?

Quantas requisições absurdas já recebemos que falavam quase para o sistemas "tocar" a empresa sozinha.. rs...

Quando uma empresa possui um sistema, os funcionários geralmente não querem saber como as coisas são feitas porque o sistema faz "sozinho". Se dá algum problema, a culpa é sempre do sistema. Mas como a culpa pode ser sempre do sistema?

Concordo que o software possui bugs. Óbvio, foi feito por um ser humano, e se um ser humano está sujeito ao erro, o software também está. Mas o sistema não funciona sem a entrada de dados. Dizer que o sistema "errou o processo" é como dizer que uma arma de fogo é capaz de matar as pessoas. Lembro até de uma cena de um desenho animado onde o protagonista (um agente do fbi se não me engano) coloca uma arma na mesa e diz: "Vamos arma, mate! Vamos lá, mate!". Sem reação da arma (obviamente) ele fecha dizendo: "Guns don't kill people. People kill people" (Armas não matam pessoas. Pessoas matam pessoas).

Não sou contra o desenvolvimento de recursos que facilitam a vida do usuário. Ao contrário, eles devem existir. Se o computador é capaz de acelerar tarefas cotidianas, por que não utilizar esse potencial?

Sou totalmente contra o uso alienado de qualquer ferramenta.

Conhecer no minimo como as coisas acontecem, além de melhorar os processos também enriquece a sua experiência profissional e pessoal, porque aprendemos a pensar melhor nas relações que existem entre cada acontecimento.

Fico por aqui com um desabafo contra o descaso e alienação aos quais nós mesmos nos submetemos.

Até

3 comentários:

Unknown disse...

Cara, sistema é uma "faca de dois legumes". As pessoas quando o compram acham que estão prestes a resolver todos os seus problemas e que não vão ter mais trabalho... que tudo será um "mar de rosas". O pior disso tudo é que a culpa é sempre dos formadores de opinião da empresa - os donos. Há alguns dias estive conversando com um consultor ISO e ele disse que tem o mesmo problema. Os empresários acham que a implantação da ISO será a solução dos seus problemas e que é só implantar e deixar a coisa rolar. Mas não é bem assim... existe um trabalho por trás e comprometimento de todos. Acredito que isso é válido para sistemas e o que deve ser mudado é a cultura reativa dos colaboradores das empresas.

Alexandre Sousa disse...

Pois é Walter. Cultura. Você tocou num ponto chave.
Na minha opinião a nossa cultura que prega esses "dogmas". Não estamos acostumados a questionar. Ou quando perguntamos, sempre esperamos resposta, mas às vezes, essas não existem. E o que fazer?
Um grande passo é começar a questionar de forma coerente e analisar a situação como um todo, não somente a pequena parte legada a cada um.
Quando não existe uma resposta, bem, então temos a liberdade de testar. Cabe aí a maturidade de escolher a melhor opção para o contexto.

Nilton Cavalini disse...

O que eu penso é o seguinte. As pessoas estão substituindo o cultivo de suas habilidades por facilitações protagonizadas por todo tipo de ferramentas.
Quando eu estava na 4ª série, o professor dizia que no futuro os homens teriam cabeças enormes e corpos franzinos. Acreditava-se que toda utilização do potencial humano se concentraria no uso da mente.
Mas as ferramentas de computação anestesiaram essa utilização ao ponto de que muitas pessoas não são capazer de fazer as 4 operações básicas sem uma calculadora.
Antigamente um faturista usaria muito sua habilidade para emitir uma simples nota fiscal, mas hoje 98% do trabalho é feito pelo computador.
Esperava-se que com o trabalho chato sendo feito pela ferramenta, os homens sublimariam a utilização do seu tempo. Mas o que vemos são pessoas cada vez mais sem tempo... Por quê? Porque nunca houve tanto desperdício de potencial e tempo com coisas inúteis e ferramentas que resolve problemas que elas mesmas criaram.
A tecnologia que salva vidas e resolve problemas está num lado da moeda. Do outro está a que cria uma parafernália inútil que só serve para vender, obsolescer e escravizar pessoas num capitalismo altamente expoliante.